Pouca gente
sabia, mas ele sempre levou a virada de ano muito a sério. Era época de
repensar os caminhos, ponderar resultados, eliminar vícios e dar início a uma
nova jornada, novas escolhas. E todo ano, no fim de dezembro, chegava o momento
de pegar a escada velha, subir até o topo do armário e encontrar as caixinhas
de porcelana, aquelas com as bordas ornamentadas com um dourado vívido e o
número de cada ano timidamente impresso sobre as tampas. Ele pegou a caixinha
de 2012 e se pôs a pensar no que encontraria dessa vez.
Entrou em seu
quarto acinzentado e sentou-se na cama, com a caixinha entre as pernas. Ao
abri-la, se surpreendeu com a espessa camada de monotonia permeando todo o
conteúdo guardado ao longo dos 12 meses que se passaram. De fato, fora um ano
mecânico, cansativo, agravado pelo desgaste dos relacionamentos. Um ponto de
interrogação o seguira como uma sombra durante todo o tempo, e por diversas
vezes a dúvida angustiou seu coração. Deixara muita coisa para trás e sentia falta
delas, mesmo sabendo a importância de abandonar aquilo que o prendia. Estava
ficando triste ao lembrar de tudo isso, mas sussurros vindos do fundo da caixa
o incentivaram a continuar fuçando.
Atravessando toda a monotonia com as mãos, conseguiu sentir entre os dedos as pequenas
alegrias daquele ano. Um sorriso se abriu em seu rosto ao assistir o saltitar
das emoções vividas, das vezes que ousou mais, se respeitou mais, se conheceu
mais e esperou menos. Sim, a expectativa sempre fora grande inimiga e o impedia
de aproveitar completamente as pequenas vitórias, mas naquele ano foi
diferente, ainda bem. Com o auxílio dos sussurros que tão bem o conheciam, ele
foi capaz de dar a si o melhor que poderia com aquilo que tinha em mãos.
Conheceu novos amigos, reconheceu os velhos, confiou mais em si mesmo e deu um
chega pra lá na auto-rejeição. Estava satisfeito consigo mesmo, poderia dizer,
e isso era uma grande conquista! Sorrisos dançavam por todas aquelas lembranças
e se tornavam mais audíveis conforme ele mexia no que encontrava.
Forçando um
pouco mais os dedos, tocou fragmentos daquilo que um dia foi, mas hoje já não
é. Os pedaços de seu coração, de um vermelho sangue ligeiramente translúcido,
jaziam docemente no fundo da caixinha, de onde não saíram durante um ano
inteiro. Ele não sabia dizer se funcionaria de novo, se poderia amar novamente.
Sussurros disseram que sim, que o coração poderia voltar a amar quando bem
quisesse. Mas era difícil acreditar pois, talvez os sussurros não soubessem,
havia alguns pedaços importantes faltando. Cego, colocara cuidadosamente os
pedaços mais importantes nas mãos de alguém que partiu e os levou consigo.
Agora a vida já não tinha o mesmo ar de sonho, e a impressão de olhar através de
um óculos cor de rosa se desfez para nunca mais. Com um olhar incrédulo, fitava
seu coração incompleto e, provavelmente, incapaz de funcionar de novo.
As lágrimas
bloqueadas durante todo o tempo – ele não se lembrava de ter chorado naquele
ano – ardiam em seus olhos e cairiam sobre suas bochechas, não fossem os
sussurros que cada vez mais altos se transformaram em sorrisos, risadas,
gargalhadas. Saíram da caixa acompanhados de uma luz azul-pálida e encheram o
quarto, cobriram as paredes, tomaram conta de tudo. Embora não fossem seus
sorrisos, ainda assim eram familiares. Lembrou-se das gargalhadas alheias que o
salvaram todas as vezes que duvidou de si mesmo, ou do futuro. Percebeu a
importância das pessoas que estavam ao seu lado, da força que cada sorriso exercia sobre ele. Concluiu que enquanto tivesse a felicidade daqueles a
quem dedicava seu amor, tudo estaria bem.
Deitado,
pensava no que encontraria na sua caixinha de 2013 - seria um ano cheio de
desafios, e ele estava um tanto amedrontado. Mas sabia que na sua caixinha só
entraria aquilo que ele deixasse, e se esforçaria pra espantar a tristeza e a
duvida. Estava decidido a enche-la até as bordas de sorrisos e palavras
doces... Agora que aprendera a ouvir atentamente os sussurros de sua alma (vozes que por muito tempo ignorou, mesmo sabendo que eram as únicas vozes a quem deveria realmente dar ouvidos) ele se sentia capaz de mudar seu próprio mundo e jamais calaria seu espírito outra vez!
Enquanto fazia planos pro futuro envolto em sorrisos que ricocheteavam
pelas paredes do quarto, ele adormeceu, agradecido pelo ano que se passou. 2012
foi instável, complicado e confuso, mas o garantiu alguns sonhos realizados, momentos
únicos, inesquecíveis palavras - ditas e ouvidas. Foi o ano em que amou tanto
os seus, que passou a amar a si mesmo.
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FELIZ NATAL
ATRASADO GENTE DESCULPA A DEMORA!
Nesse clima de
fim de ano, fraternidade na comunidade (é noiz brow), uva passa na comida, tio
bêbado fazendo discurso, quero agradecer ao apoio de vocês que estiveram comigo
mesmo com meu sumiço, dando força e pedindo mais posts/desenhos (isso me deixo
muito feliz). Eu tive que desenhar muito pouco em 2012 pra dar conta do ultimo
ano de faculdade (embora ano que vem eu tenha pendências a resolver). Mas não
vou ser hipócrita: ainda assim me diverti muito! Consegui me sentir completo em
diversos aspectos... Realizei o sonho de conhecer um observatório astronômico,
assisti filmes que queria há muito tempo e li outros tantos livros, ouvi muita
música e achei CDs raríssimos na internet, saí com os amigos, superei o passado
(ninguém precisa saber que o passado me superou primeiro), dei o fora em alguém
(pode ser normal pra vocês, mas eu to me achando), enfim, mais 12 meses
memoráveis se passaram pra encher minha caixinha de lições, aventuras e
lembranças doces como açúcar!
Mas agora
chegou a hora de voltar a desenhar!!!! Nesse desenho eu apresento a vocês Mai
(a maior) e Keiko (a novinha – MÃOS PARA O ALTO NOVINHops). Elas são
personagens de “Valentine’s Taihen”, a história de uma amiga minha que eu vou
desenhar. É bem simples e curtinha (vai dar pouco mais de 15 páginas) e é com
ela que vou re-acordar minhas mãos. Estou tão enferrujado que mesmo sendo um
desenho simples, terminar esse cartãozinho foi bem difícil. É resultado de 8
horas de trabalho, divididos em 2 dias (foi umas 4 horas só tentando acertar a
anatomia, olha o que ficar tanto tempo sem desenhar faz com a gente, não
repitam isso em casa crianças), e ainda assim anatomia ta toda torta e arte
final bem falha - mas tenho em minha defesa que estou há 6 meses sem desenhar
(sem contar os 12kgs de comida da vó Cristina que ainda tão pesando por aqui)!
Espero pegar logo o jeito de desenhar de novo - no que depender de mim vou
praticar muito! Por enquanto meu desenho de fim de ano favorito continua sendo
o do ano passado!
Agora, com
licença, vou me preparar pra mais um fim de ano! Meus sentimentos estão bem
misturados, mas a esperança de dias melhores continua aqui, então ta tudo bem!
[Já que o mundo não acabou e a
gente vai ter que viver mais um ano] Que ano que vem todos possamos sorrir
mais, nos divertir pra caramba e desenhar de montão! Torço muito pra felicidade
de todos vocês, leitores, e espero que estejamos juntos por muitos anos ainda!
Obrigado, de coração!
QUE A CRIATIVIDADE ESTEJA COM
VOCÊS!
p.s. acho que o post ficou meio
grande (mas só acho)...
p.p.s. estou numa lan house e as cores do desenho estão diferentes... será que é o monitor daqui ou o de casa que ta mais escuro? O cabelo da Mai parece que tá sem contorno... ò.ó
p.p.p.s. vou começar o ano com o cabelo horrível, achei legal compartilhar
p.p.p.p.s. esse é o post de nº 50! :D